O Jovem e o Executivo

 

Mais um dia de trabalho começa para um dedicado executivo. Ele cuidadosamente avalia as circunstâncias, comunica com clareza as tarefas essenciais para sua equipe, participa de reuniões e encontros com fornecedores, fornece diretrizes ao setor de compras da empresa e se reúne com o departamento jurídico para elaborar os próximos planos.

Ele se lembra das palavras de sabedoria que o ajudaram a compreender a importância de liderar com empatia e compaixão: A verdadeira liderança está em servir, não em ser servido.

O executivo se esforça incansavelmente. É responsável não apenas pelo que faz, mas também pelo que deixa de fazer. Tem consciência de que seu trabalho de grande relevância resulta em benefícios significativos, como um salário generoso, influência na esfera social e política, segurança previdenciária e todas as vantagens de um emprego de qualidade.

O dia se aproxima do fim, e o executivo, apesar do cansaço, tem a convicção de que seu trabalho contribuiu de maneira substancial para o crescimento e estabilidade econômica do país.

Seu motorista particular o conduz até o apartamento em um bairro nobre e seguro da cidade. No aconchego do lar, ele cumprimenta seus filhos e esposa com afetuoso carinho, que é prontamente retribuído.

Após um revigorante banho e um aperitivo, o executivo decide encomendar uma pizza por delivery para relaxar. Enquanto aguarda a chegada da refeição, ele se recosta em um móvel da varanda e consulta despretensiosamente as últimas notícias em seu celular.

Pouco tempo depois, o entregador chega: um jovem de bicicleta com cortes no cotovelo e no joelho, visivelmente abalado. Ele entrega a pizza ao executivo, que percebe manchas de sangue na embalagem térmica.

O menino havia sofrido uma queda de bicicleta e se ferido, mas, mesmo assim, persistiu em sua missão de entregar a pizza.

Com voz cansada e rouca, o jovem pede ao executivo que não o avalie negativamente no aplicativo, já que as empresas costumam impor regras rígidas e punições severas aos entregadores mal avaliados. Isso revela a dependência desses trabalhadores em relação às empresas.

Esse momento teve um forte impacto no executivo. Ele age de acordo com suas crenças, lembrando-se de que a verdadeira riqueza está em ajudar os necessitados. Imediatamente pede ao seu filho para descartar a pizza contaminada e fazer um novo pedido sem que o entregador perceba. Em seguida, ele presta assistência ao jovem ensanguentado.

O executivo reflete sobre sua vida financeiramente estável, seus direitos trabalhistas em caso de acidente no trabalho e contrasta isso com a precária situação profissional do jovem entregador. Ele reconhece as profundas desigualdades sociais que existem em nossa sociedade.

Dando continuidade ao ato de humanidade, o executivo conduz o entregador até a sala de primeiros socorros de seu condomínio, onde um profissional de saúde cuida de seus ferimentos.

O executivo atua como qualquer ser humano deveria agir, em contraste com a triste realidade em que os mais ricos muitas vezes demonstram insensibilidade.

Após os curativos e a higienização, o executivo percebe que o entregador está em condições de retornar para casa em segurança. Nesse momento, chega o novo entregador com as pizzas. O executivo separa uma das grandes pizzas que havia pedido e a entrega ao jovem acidentado, que expressa sua gratidão.

Assim, o executivo segue seu caminho, incorporando os valores que moldam sua visão de mundo e liderança, sem mencionar diretamente a fonte de sua inspiração, mas agindo de acordo com os princípios que carrega consigo.