Livros e Cafés

 




O cenário já foi bem diferente. Eu costumava observar com certo encanto aquelas cenas nas livrarias e cafeterias. Era uma espécie de ritual sedutor. As pessoas entravam nas livrarias, folheavam os lançamentos de livros, revistas, CDs, DVDs e jornais, como se estivessem navegando em um oceano de conhecimento.

Após adquirir seus exemplares, elas se dirigiam às cafeterias, ansiosas para saborear um cappuccino fumegante. Sentadas, com o olhar concentrado nas páginas dos livros, o aroma do café preenchia o ambiente, criando uma atmosfera de prazer onde o tempo parecia se esticar como um elástico.

Enquanto aguardavam os familiares que faziam compras, mergulhavam nas páginas de uma revista nova. Esqueciam os problemas do mundo exterior, deixando-se levar pelas palavras impressas, enquanto o relógio parecia ter perdido sua urgência.

Eu testemunhei essa cena por muitos anos. No entanto, à medida que o tempo avançava, algo sinistro começou a acontecer. As livrarias foram fechando uma a uma, os livros foram digitalizados e os CDs e DVDs deram lugar ao mundo do streaming. Hoje, em muitos shoppings, você mal encontra uma livraria para contar história.

O brasileiro, que antes já não era visto como um exemplo de bom leitor, agora se pergunta: por que tantas livrarias estão fechando? Há alguns motivos. Os livros vendidos nas livrarias se tornaram mais caros do que os disponíveis em plataformas online. A falta de incentivo público para reduzir os preços também contribuiu para esse declínio.

No entanto, o que realmente aconteceu foi uma mudança nos hábitos de consumo. As pessoas passaram a preferir outras formas de entretenimento, como as redes sociais, em vez da leitura. Afinal, é mais fácil dar uma olhada rápida nas atualizações do Instagram do que mergulhar em um romance profundo.

Hoje, quando você entra em uma das poucas livrarias físicas que ainda resistem, a cena é diferente. O ambiente soa frio, quase sem a presença dos jovens que costumavam se deleitar nas prateleiras de livros. Você sente uma tristeza profunda, como se estivesse testemunhando o declínio de um hábito precioso.

Há o temor de que o fechamento das livrarias reduza a quantidade de leitores ou mesmo a qualidade da leitura. O livro, que antes era uma companhia constante nas cafeterias, perdeu espaço para o celular. Os e-books substituíram as páginas impressas, e a companhia nas mesas de café se tornou uma tela fria e brilhante.

Se por um lado, vivemos a tragédia do fechamento das livrarias, por outro, as cafeterias florescem como nunca. A ironia é que, enquanto as pessoas já não leem, elas despejam fortunas em cafés caros, hipnotizadas pelas telas infinitas de seus celulares. O livro perdeu seu posto de honra, e o celular, apesar de todas as maravilhas tecnológicas, nada tem de glamour.


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