Tela Infinita

 



Foi em um hotel, daqueles que nos fazem sentir um imperador romano de férias, que me deparei com uma arquitetura moderna que beirava o surreal: uma piscina infinita. Ela se estendia até o horizonte, oferecendo uma visão espetacular. E ali, na beira daquela piscina, comecei a refletir sobre como a palavra "infinito" conquistou o mundo, ou pelo menos, o meu mundo cotidiano.

A piscina infinita, com seu horizonte distante, parece ser o símbolo perfeito de uma era onde o "infinito" está em toda parte. A mídia e a tecnologia estão repletas de termos que usam essa palavra de maneira quase obsessiva.

O "scrolling infinito" das redes sociais nos mantém rolando a tela incessantemente, alimentando-nos com uma interminável cascata de informações e imagens.

As "playlists infinitas" dos serviços de streaming musical nos oferecem uma experiência auditiva ininterrupta, mas muitas vezes esquecemos o que é escolher uma música específica, pois a próxima sempre está pronta para tocar.

E os games, agora chamados de "jogos infinitos," não têm mais um fim claro, permitindo, assim, que os jogadores continuem indefinidamente.

Essa obsessão pela infinitude se espalhou pela juventude. Os livros já não são mais tão interessantes, e autores começaram a criar best-sellers que parecem perder o fio da meada, apenas para prolongar a sensação do prazer.

Agora, os aplicativos de "tela infinita," como Twitter, Instagram e TikTok, dominam a cena. Os usuários não mais escolhem o que veem, apenas rolam compulsivamente. A cada momento, são bombardeados com informações cada vez menos relevantes para sua formação moral e acadêmica. Violência, desastres e bobeiras ocupam o mesmo espaço na tela, e a juventude passa horas a fio diante do celular, sem perceber o excesso de conteúdo consumido.

Além disso, a "tela infinita" causa uma perda de foco. A constante busca pelo que é novo leva à procrastinação e à perda de produtividade. O mundo real, com suas demandas e nuances, perde espaço para a realidade virtual e suas infinitas possibilidades.

Especialistas em saúde mental já começam a estudar as consequências dessa obsessão digital. Psicólogos e psiquiatras diagnosticam, constantemente, distúrbios precoces em crianças devido ao uso abusivo desses aplicativos. A ansiedade se torna uma companheira indesejada.

A solução está em limitar o tempo de uso e em impor regras e restrições. Comandos nos celulares podem ajudar a conter a compulsão. A tecnologia, que tantas vezes salva vidas e facilita o trabalho, também pode causar estragos na vida de crianças e adolescentes.

Talvez fosse a hora de perceber que, mesmo em uma era de infinitude digital, o mundo continua seguindo seu ciclo natural. As coisas têm começo, meio e fim, e é crucial reconhecer e aprender com esses eventos. Somente assim, com os pés firmes na realidade, poderemos amadurecer em meio a essa maré infinita de informações e distrações.


Nenhum comentário: