A Catraca Maluca



A professora acabara de entregar a ele o resultado da prova de matemática. A surpresa foi enorme: um "C". Naquela época, a aprendizagem era avaliada em letras, A, B, C e D, e ele, um aluno que quase sempre conquistava um "A", ficou perplexo com sua nota. Era um menino dedicado e concentrado na escola, mas naquela prova, percebeu que havia errado quase todas as questões. A única razão pela qual não recebeu um "D" foi porque a professora era sua madrinha.

Ela lhe disse, com um olhar sério: -"Você precisa deixar essa bicicleta de lado."

Ele havia ganhado uma bicicleta nova naquela época. No entanto, a bicicleta não era realmente sua e nem nova. Em uma família com tantos filhos, ninguém era dono de nada.

Com apenas 9 anos, ele estava apaixonado por aquela bicicleta com mais de 10 remendos na câmara de ar. Subia e descia os morros em alta velocidade, tão absorto em sua diversão que nem percebia quando a noite chegava.

O problema era a catraca da bicicleta, que parecia ter vida própria e falhava com frequência. E quando isso acontecia acabava batendo com os testículos no quadro, já que ainda não tinha altura para sentar no selim e pedalava em pé.

Apesar da intensa dor, ele logo se recuperava e voltava a montar na bicicleta. E a catraca falhava novamente. Hoje, ele agradece a Deus por ainda ser capaz de produzir espermatozoides.

Com o tempo, percebeu que a catraca emitia um som característico antes de falhar, então, aprendeu a pular rapidamente da bicicleta quando ouvia o barulho. Embora se machucasse ocasionalmente, a dor de um arranhão era infinitamente menor que a dor testicular, como qualquer menino que já tenha jogado bola pode atestar.

A nota "C" na prova de matemática o havia assustado, mas não o suficiente para fazê-lo abandonar sua amada bicicleta. O dia da segunda prova de matemática estava se aproximando rapidamente e ele precisava recuperar sua nota.

O dia da prova chegou, e o desafio era dividir números. Divisor, quociente, dividendo... Ele conhecia a teoria, mas na hora dos cálculos, sua mente vagava para as lembranças da brisa em seu rosto enquanto descia os morros, das emoções nas curvas, do cheiro de terra molhada e das andorinhas que se alinhavam nos fios de alta tensão, fazendo-o questionar por que não eram eletrocutadas.

Desta vez, ele recebeu mais um "C", sem a ajuda de sua professora madrinha. Era um "C" genuíno, que o afetou profundamente. No entanto, ele acredita que tenha sido o último "C" que tirou em toda a sua trajetória estudantil.

Pouco tempo depois, sua querida bicicleta, com sua catraca maluca e muitos remendos, estava danificada além de qualquer reparo. No entanto, a esperança de ter uma bicicleta só sua continuava viva em sua memória.

Ele finalmente realizou esse sonho aos 23 anos de idade, mas a emoção não era a mesma. Como ele aprendeu ao longo da vida, tudo tem seu tempo.


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